quarta-feira, 12 de outubro de 2016

TEMA 4: Um pouco de misticismo


O Sefer Ietsirá ( Livro da Formação) é o mais antigo e mais misterioso de todos os textos cabalistas. Os primeiros comentários aparecem no século X, e citado já no século VI. Referências ao trabalho remontam o século I. A tradição considera sua existência desde os tempos bíblicos. A tradição atribui o Sefer Ietsirá a Abraão. Para o entendimento de seu conteúdo é necessário um paralelismo na literatura Bíblica e Talmúdica, quando as palavras começam a fazer sentido.

A Cabalá divide-se em três categorias: teórica, meditativa e mágica.

A Cabalá teórica é baseada fundamentalmente no Zohar, que trata principalmente dos processos e dinâmica do domínio espiritual. A Cabalá meditativa trata do uso de nomes Divinos para alcançar estados superiores de consciência. A terceira categoria, a mágica, está intimamente relacionada à meditativa. A tradição fala de meditações que podem influenciar ou alterar os eventos naturais, e em estados alterados pode-se canalizar poderes telecinético e espiritual. 

O Sefer Ietsirá é dividido em seis capítulos (a versão que estou usando). O primeiro capítulo trata extensamente das Sefirót. O segundo, uma discussão sobre as letras do alfabeto. Nos capítulos três, quatro e cinco discute-se as divisões das letras em letras mães, duplas e elementares, relacionadas ao Universo, alma e tempo, onde podemos encontrar um sistema astrologicamente estruturado e detalhado. O sexto e último capítulo discute os conceitos de eixo, ciclo e coração, que só aparece, mais tarde no Livro de Bahir, um livro sobre a Cabalá anterior ao Zohar. Esse último capítulo conclui com uma estrofe que vincula o Sêfer Ietsirá a Abraão.

Ao longo dos TEMAS iremos citar passagens do Sefer Ietsirá para uma abordagem mística da astrologia cabalística. No primeiro capítulo, a primeira estrofe menciona os 32 caminhos da Etz Chaim (os 32 caminhos). As frases da tradução foram dispostas de uma maneira diferente para realçar as menções do texto original (esta é uma tradução de Arieh Kaplan).



                                                                                                            Capítulo I: versículo 1
Com 32 caminhos místicos de Sabedoria
           gravou Yah
                o Senhor dos Exércitos
                o D'us de Israel
           o D'us vivo
                Rei do Universo
           El Shadai
                Clemente e Misericordioso
                Elevado e Exaltado
                que mora na Eternidade
                cujo nome é Sagrado -
                        Ele é sublime e sagrado
E criou Seu Universo
    com três livros (Sefarim)
                com texto (Sefer)
             com número (Sefar)
             e com comunicação (Sipur).


Vamos analisar cada uma das partes do texto. Em "Com 32 caminhos", os 32 caminhos referem-se às 10 Sefirót e as 22 letras do alfabeto hebraico, que representam os 22 caminhos. As letras e as Sefirót são a base para os elementos da Criação: quantidade e qualidade.

Nenhum dos nomes de D´us referem-se ao próprio criador. O Criador é apenas mencionado mediante as palavras Ên Sof (Sem Fim). Os nomes mencionados nas escrituras e em outros lugares referem-se aos diversos caminhos através dos quais D´us menifesta-se a si mesmo na Criação.

O nome Elohim, usado em todo o primeiro capítulo de Bereshit (Gêneses), refere-se à manifestação da delineação e definição da Criação. Cada um dos 32 caminhos serve para delinear e definir um aspecto da Criação em particular.

Em hebraico o número 32 é escrito com Lamed e Bet e é lido como Lêv, que significa coração.

A Torá é vista como o coração da Criação.A primeira letra da Torá é o Bet (Bereshit - No princípio). A última letra da Torá é o Lamed, da palavra Israel. As duas juntas também se lê Lêv. Os trinta e dois caminhos estão contidos na Torá, que o meio através do qual a Mente se revela.

Uma interessante abordagem entre as letras Bet (B), Lamed (L) e o Tetragrama Yod, Vav, Hê e Vav, podem servir como sufixos de pronomes pessoais:

Dentre todo alfabeto hebraico só há duas letras às quais estes sufixos , retirados do tetragrama e da palavra Lêv, podem se reunir, e estas são o Lamed e Bêt. Isto é, somente entre as letras, numa combinação duas a duas, obtemos o pronomes pessoais junto á palavra coração.

                   O texto do Sêfer Ietsirá:
Shloshim UShtaim Netivot Peliót Chochma      
                                            Com 32 caminhos místicos de Sabedoria 

A palavra hebraica usada para caminho é Netivot e não Dêrech (a mais comum e que também significa caminho). De acordo com o Zohar, há uma importante diferença entre ambas. Derech é uma estrada pública, uma rota usada por todo mundo, Um Nativ é uma rota pessoal, um atalho aberto por um indivíduo para seu próprio uso. É um caminho oculto, sem marcas nem sinalizações, que devem ser descobertos por si mesmo e caminhar pelos significados com suas próprias ferramentas.

Os 32 caminhos da Sabedoria são então chamados Netivot (a terceira palavra). São caminhos privados que devem ser desbravados por cada um. Não há uma rota definida. Cada indivíduo deve descobrir seu próprio caminho.

As 32 palavra Helohim (Deus), que aparecem no primeiro capítulo de Bereshit (Gêneses), é considerada no Talmud como um dos sete nomes sagrados de D´us. O nome Heloim refere-se à Midat HaDin, o atributo (Midat) de D´us, que julga e clama por justiça (Din).

Neste primeiro capítulo do livro de Bereshit (Princípio) encontramos a alusão aos 32 caminhos da árvore da vida. E cada uma das 32 vezes que Heloim é mencionado é associado a quatro verbos, disse, chamou, fez e vi.

Nos versículos onde aparece Helohim associado ao verbo "disse", aparecem 10 vezes, e estão associados ás 10 Sefirót.

As sete vezes que Helohim aparece acompanhado do verbo "chamou", estão associados aos 7 caminhos verticais, chamados de As Sete Duplas. Nesses 7 caminhos estão os planetas.

As três vezes que Heloim aparece acompanhado do verbo "fez", estão associados aos três caminhos horizontais, denominados As Três Mães. Nesses caminhos estão os elementos fogo, ar e água.

As doze vezes que aparece o verbo "viu" junto a Heloim, estão associados aos 12 caminhos inclinados, que são chamados de Os Doze Elementares. Nesses 12 caminhos estão os 12 signos. 




Temos, então, caracterizados na Etz Chaim os planetas, os signos e os elementos fogo, ar, água e terra. Além disso, a combinação de três Sefirot, excetuando Keter, temos também os ritmos, cardinal, mutável e fixo. A ordem como estão dispostos é exatamente como estão dispostos do mapa astral convencional. A diferença está na base referencial de cada sistema. Enquanto a astrologia convencional utiliza as áreas da vida, como: casa 1, como vejo o mundo, casa 2, como consigo acumular riquezas, casa 3, como me comunico...etc, a astrologia cabalística utiliza como base referencial as energias místicas da criação que estão presentes em tudo na vida e no mundo. É necessário rever todos os conceitos anteriores para entender como eles são interpretados nesse novo referencial. A convencional diz sobre a vida, a cabalística, sobre a alma.

Vamos voltar à construção da Árvore da Vida, analisando no TEMA 5 a Sefirá de Biná. Teremos o conjunto de Chochmá, o elemento fogo que liga à sefirá de Biná. Vamos analisar a Sefirá de Daat e os caminhos que ligam Chochmá a Daat e Daat à Biná.

Recorreremos ao Sefer Ietsirá conforme o desenvolvimento das Sefirót, para que tenhamos o entendimento mais profundo dos significados de cada parte da Etz Chaim.

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